Eu vou envelhecer

Eu vou envelhecer, estou envelhecendo, ficando um pouco mais velha a cada letra digitada, a cada vez que o ar entra pulmões adentro, a cada ano que passa cada vez mais rápido que o anterior. Eu vou envelhecer e a moça das fotos de hoje não se reconhecerá em meios às rugas do futuro, as dores que sinto por caminhar muito ou em virtude de um mal qualquer que me acometa, serão minhas mais fiéis companheiras

Eu vou envelhecer e vou acompanhar dolorosamente o findar de todos os meus amigos, da minha geração, das testemunhas oculares daquilo que vivi. Ninguém mais saberá das músicas que eu ouvia, ninguém mais rirá das piadas tolas que se conta hoje. Só conversarei sobre o passado com aqueles que também o viveram, conversaremos efusivamente sobre como “no nosso tempo” era muito melhor, riremos de um parco de bobagens e nos calaremos pois o passado limita-se, o passado nos limita.

Quando eu envelhecer, espero ter pencas de filhos e netos que me visitem de vez em quando, espero que eu seja para eles, pelo menos por algumas horas, uma vovózinha simpática e boa cozinheira. Espero não sofrer em demasia quando ao findar do dia eles forem embora de volta para a vida deles, para a vida que ainda possuem para viver.

Eu vou envelhecer, caso eu não morra antes. Espero, por fim, ter “meu velho” segurando minhas mãos enrugadas, espero que tenhamos uma grande casa de paredes caiadas com um imenso jardim, duas cadeiras de balanço na varanda e uma vista fantástica para o resto de verde que houver no mundo. E assim, um dia com a cabeça apoiada um no ombro do outro, olhando para o horizonte, descobriremos juntos, como todas as nossas tantas descobertas, o que está do outro lado.

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